Organizadores: Elisa Amorim Vieira, Rogério Cordeiro e Paulo Bio Toledo
ISBN: 978-85-8054-702-3
Páginas: 488
Publicação: 2024
Encadernação: Brochura
É sintomático que o primeiro tratado ocidental dedicado à teorização da literatura, a Poética de Aristóteles, tenha tomado como referência o teatro. É ele que induz à reflexão, sendo dele que se tiram os operadores teóricos: ficção, mimese e catarse. Contudo, é também nessa abordagem inaugural que se produz a cisão entre texto e performance. Ao desdobrar os componentes da mimese trágica em enredo, elocução, caracteres, melopeia e espetáculo, o filósofo tem este último como o menos relacionado com a poética, pois fica a cargo do “chefe do coro”, isto é, o diretor de cena. Evidentemente nem tudo que afirma Aristóteles se tornou objeto de fé, pois ainda na Antiguidade, como no Medievo e na Modernidade, pulularam formas que simplesmente se deram à revelia de sua teorização, como as danças da morte ou os autos de Gil Vicente, além do que intencionalmente visou se contrapor a seus preceitos, a exemplo do drama romântico e do teatro épico de Brecht.
É às relações (que se podem dizer) perigosas entre teatro e literatura, que se dedicam os vinte e um autores do presente volume, com tratamento variado de aspectos das duas esferas de produção poiética, em vista sobretudo da explosão contemporânea de formas tanto literárias quanto espetaculares. Se não tem sentido reduzir umas a outras, a própria definição de cada campo apresentando porosidades, não convém igualmente tê-los como antípodas, configurando-se antes uma relação dialógica interartes que se vale inclusive da disponibilidade de meios tecnológicos capazes de produzir novas formas apropriadas à produção de novos efeitos.
Recorde-se que, a Poética aristotélica não sendo única, uma das que nos vem do Oriente, também inaugural e por igual dedicada ao teatro, o Nātyaśāstra, atribuído ao sábio hindu Bharata, sem descurar de personagens, metros e dicção, explora outros operadores teóricos tais quais afecções, gesticulação, espaço e figurinos. Baste a pluralidade de formas, experiências e poéticas, na medida mesma do vasto mundo, para garantir-nos o quanto poesia e teatro dizem respeito ao que em nós há de humano, profundamente humano.
Se o tratado de Bharata se atribui ao próprio Brahma, que o extraiu da poesia do Vedas, também Aristóteles considera a origem do teatro estar nos versos que performam Dioniso. Em suma, entre deuses e homens, palavras e ações – os entrelaçamentos donde brotam inúmeros modos de (re)presentação.
Jacyntho Lins Brandão
Sumário
Apresentação
PARTE I – DEBATES CONCEITUAIS
Tragédia e revolução em Marx: a defesa da shakespearização
Ana Aguiar Cotrim
Narrativas em abismo: ficcionalidade em camadas no drama diegético
Elen de Medeiros
Ficcionalización histórica e historización de la ficción en seis monólogos chilenos actuales
Carolina Brncić
Tropicalismo Genérico: literatura e identidade nas dramaturgias de Brasil e Portugal
Jorge Louraço Figueira
PARTE II – PARALELOS E CONTRASTES
Filhas e filhos da ditadura: reconstruções de experiências e usos de documentos familiares em El año en que nací, de Lola Arias e El sistema del tacto, de Alejandra Costamagna
Júlia Morena Costa
Um teatro sem palco no Romantismo brasileiro: fracasso da forma e experimentação com os gêneros literários
Andréa Sirihal Werkema
Espectros da escravidão no romance e no teatro do século XIX: “Memórias de um sargento de milícias” e “Os dois ou o inglês maquinista”
Paulo Bio Toledo
Não veja a peça, escute algumas canções, leia o livro: comentários em torno da dramaturgia de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra
Carolina Serra Azul Guimarães
PARTE III – TRANSFUSÃO DE FORMAS
O Teatro Iídiche como fonte de inspiração em Franz Kafka
Élcio Loureiro Cornelsen
A teatralidade nos Contos de Ionesco para crianças
Lia A. Miranda de Lima
Do naturalismo à ideia: Hermann Broch dramaturgo
Daniel Bonomo
Teatralidade como estratégia metaficcional: reflexões a partir do Quixote
Elisa Amorim Vieira
A gênese dramatúrgica do romance machadiano
Rogério Cordeiro
O chão instável da forma: poesia e teatro em Ricardo Aleixo
Gustavo Silveira Ribeiro
PARTE IV – POLÍTICAS DO TEXTO E DA CENA
Escenificar el franquismo en Galicia: Glass City (2009) de Eduardo Alonso
Diego Rivadulla Costa
¿Qué te pasa, mamá? Violencia contra las mujeres, desplazamiento forzado y escritura íntima en escena: huellas transatlánticas de represión franquista en el contrapunto generacional de Quince moños rojos, de Silvia Ramos
Mariela Sánchez
Reverberações inquietas do passado: o ato de restituição das peças “Os filhos do mal” e “Esta é a minha história de amor”, da companhia Hotel Europa
Roberta Guimarães Franco
O corpo e a cidade como lugares de poiesis e de revolta na organização de um festival de artes cênicas
Renato Forin Jr.
Reflexões sobre as poéticas pretas nos teatros negros contemporâneos
Marcos Antônio Alexandre
Las primas de Aurora Venturini: la puesta en escena de una artista monstruo
Geraldine Rogers
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