ISBN: 978-85-8054-568-5
Páginas: 310
Publicação: 2022 / 1º Edição
Encadernação: Brochura
Os textos que compõem este livro resultam de aulas dadas em 2020 e 2021 no curso “O Antropoceno: abordagens transdisciplinares”, coordenado por Stelio Marras, Renzo Taddei e Joana Cabral de Oliveira. Docentes, convidados e participantes contribuíram a partir dos mais diversos campos: das ciências às artes e à política.
Quando fui convidado por colegas para conversar sobre um curso voltado para o Antropoceno, em 2019, não se imaginava que estávamos a menos de seis meses de uma pandemia na qual morreram milhões de pessoas. Em 2020 o curso teve que ser adiado do primeiro para o segundo semestre, quando ainda não havia vacinas e a peste parecia se alastrar sem controle. Naqueles meses difíceis de 2020, enquanto olhávamos impotentes e reclusos a ignorância marchar orgulhosa país afora sobre veículos militares, motocicletas ou cavalos, o curso sobre o Antropoceno foi um alento, um espaço virtual que permitiu encontros, diálogos e confrontos nas tardes de sexta-feira. Se o contexto remoto impediu o contato direto tão rico proporcionado pela sala de aula, ele permitiu, por outro lado, o acesso de pessoas que vivem longe de São Paulo e que não poderiam normalmente participar das aulas. Amigas e amigos se juntaram ao grupo e invariavelmente se prologavam até o início da noite as longas discussões ocorridas após as aulas, com a participação de dezenas de pessoas. Ao longo do curso, as tardes de sexta-feira foram se tornando em momentos privilegiados da semana, celebrações do conhecimento e do diálogo sustentadas por aulas brilhantes em meio à dor provocada pela pandemia.
O debate sobre o Antropoceno já me interessava há tempos, principalmente por causa de minha formação como arqueólogo. A esta altura, é incontestável que a influência humana nos ciclos planetários se equipara ao de uma força geológica, ou mesmo cósmica, mas como arqueólogo me interessava em identificar as propriedades estratigráficas associadas a eventos que poderiam marcar o início dessa nova época geológica. Tive o privilégio de ministrar aulas nos dois anos do curso, mas, graças sobretudo às aulas brilhantes que assisti, minha concepção sobre o Antropoceno mudou completamente. Embora considere ainda fundamental identificar os registros estratigráficos das relações cambiantes entre nossa espécie e a natureza, aprendi com as autoras e os autores deste livro que o Antropoceno é um processo que ainda está a se desenrolar, que não está acabado, a despeito das evidências dramáticas de alterações nos ciclos naturais que se empilham à nossa frente. Contra o avanço aparentemente implacável das forças que constroem o Antropoceno, há ainda inúmeras outras forças que resistem, compostas por redes de humanos e não humanos das quais também somos agentes.
Viver no Brasil não foi fácil nos últimos anos. Participar deste curso sobre o Antropoceno me ajudou a fazer a travessia. Este livro é um testemunho do poder que a pesquisa, a reflexão e a arte têm para iluminar as trevas e para nos assegurar que, apesar de tudo, o futuro continua aberto.
Eduardo Góes Neves
Professor Titular de Arqueologia Brasileira do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
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